Tempo e experiência docente
Por Flávio Tonnetti
O tempo é o lugar do homem, portanto, é também o lugar da história. E o homem só se realiza na história, porque é somente nas sucessões do tempo, ou das eras, que o homem se inventa. É nas sucessões de tempo que o homem se cria.
Ao contar suas trajetórias e preservar suas culturas, homens que vieram antes ensinam a experiência humana a homens que virão depois. Assim, se o tempo é o lugar da história, é também o lugar da estória.
Tal qual o viajante ou o velho agricultor que vive ligado à terra – cada um em pólos diferentes em suas experiências de estar no mundo – o lugar do professor é o lugar daquele que narra. Ou porque permaneceu muito tempo sobre a mesma seara, ou porque foi capaz de viajar nas trilhas do caminho que escolheu. O papel do mestre é o papel daquele que viu e viveu: daquele que tem experiência. Vini, vidi, vinci, nas palavras de César: a experiência humana é a experiência vencida. O mestre, o sábio que veio antes, pode relatar aquilo que nenhum desses que vieram depois pode. É preciso vir, ver e vencer, resistir às agruras do trajeto escolhido.
Por isso, a experiência docente é a experiência cronológica. E é também a experiência daqueles que esperam – ou pelos que cruzam o caminho ou pelo fim da viagem. O docente pressupõe um lugar, do qual se fala. Não é um lugar a esmo, portanto. Toda experiência precisa de um chão para se realizar. E o docente é o responsável pelo chão que ele habita.
Transmissor da história e dos feitos da humanidade, transmissor da cultura, o docente zela pela humanidade. Mas “sem tempo” para encontrar outros homens, a contemporaneidade faz da docência o lugar do vazio. O docente que seja incapaz de perceber esse aniquilamento do tempo, não logrará sucesso, e não cumprirá seu papel, sendo, portanto, descartável. Cada vez mais, o exercício da docência se configura como o vazio do não vivido.
O docente incapaz de atribuir um sentido às coisas que narra, que não sabe o que fazer de sua própria experiência, está fracassado. O tempo deve ser encarado como tempo de realização e não de monotonia. Realizar coisas em um tempo vazio é nosso maior desafio.
Ao contrário daquele que aceita os caprichos de um tempo sem tempo, o docente que crê no seu ofício, que luta para preservar seu espaço, para terminar com êxito o seu trajeto, fará do seu tédio junino ou natalino, das férias de meio ou fim de ano, um momento para pesar sua experiência. Para ver se vale à pena transmiti-la aos que virão depois e àqueles que estão chegando agora: os alunos. Com unhas e dentes será preciso repetir então as máximas de César: vini, vidi, vinci. Talvez, então, tenhamos um motivo para continuar celebrando o dia do profissional da educação: o dia do professor. Para que este dia não seja um dia como qualquer outro: um dia do tempo sem tempo.
“(…)o tempo não espera por ninguém(…)” – Livro: Clarissa. Érico Verissimo.
Segundo Eric Hosbawm diz que a história sempre terá umas fragmentações de acontecimentos. Ou seja, ela nunca será completa.
Na minha opinião, o tempo e a história são uma combinação para criar a “identidade” do homem, porque ele não quer perder isto para mostrar o que já existiu. No entanto, nunca sabemos tudo o que esse homem fez, só algumas coisas dele…
Posso dizer que não entendo porque nem todos sabem a existência de guerra civil esquecida do país Armênia, simplesmente ela foi assim e nada mais? Por isso, sabemos muito pouco a respeito dela.
Porque não podemos saber como surgiu realmente a humanidade, mesmo assim que não tenhamos conseguido encontrar uma comprovação absoluta que os macacos são de uma origem da humanidade, segundo Darwin? Até hoje, ninguem sabe ao certo isso…A nossa história e o nosso tempo são fragmentados, nunca completados…
Pelo menos sei que o homem continua vivendo em momento atual para mostrar algumas suas coisas já feitas para outros. Quer dizer que mostrar algumas coisas da sua experiência de vida. Apenas isso.
ALANE SOUZA – 08/01/2010
Belíssima explanação a respeito do tema abordado!
O lugar do tempo é o homem.
Lembrei de Benjamin num ensaio sobre Proust:
“Max Unold [...] comparou as narrativas de Proust com ‘histórias de cocheiro’: ‘ele conseguiu tornar interessantes as histórias de cocheiro. Ele diz: imagine, caro leitor, ontem eu mergulhei um bolinho numa xícara de chá, e então me lembrei que tinha morado no campo, quando criança. Para dizer isso, Proust usa oitenta páginas, e o faz de modo tão fascinante que deixamos de ser ouvintes, e nos identificamos com o próprio narrador desse sonho acordado.’”
É possível estarmos no caminho de Swann, em busca do tempo perdido?
NOVO OLHAR SOBRE A MATEMÁTICA,
http://www.ufpa.br/beiradorio/novo/index.php/leia-tambem/124-edicao-93–abril/1189-novo-olhar-sobre-a-matematica
Conheço bons professores jovens, mas a arte de lecionar é como o vinho, ao passar dos dias se torna melhor e valoroso. Somente a experiência pode aprimorar, lapidar um educador, claro que estudar sempre é fundamental, mas existe um conhecimento que só tempo transmite ao professor.